Tipos de perfis de conceitualização para a Ciência e o Ensino

 

Por: Saulo Cézar Seiffert Santos & Augusto F. Téran
(Texto extraído: SANTOS, S.C.S.; TÉRAN, A.F. A CONSTRUÇÃO DO PERFIL PEDAGÓGICO COMO INSTRUMENTO PARA ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS. Trabalho de comunicação oral apresentado no I Simpósio Internacional de Educação em Ciências na Amazônia (SECAM) realizado em Manaus-AM, na Escola Normal Superior – UEA, nos dias 22 a 23 de setembro de 2011.)
 
 
Bachelard (1979) no seu livro “A filosofia do não” discute sobre as variedades de compreensões sobre um conceito em diversas teorias, analisando em específico os elementos da concepção psicológica da Ciência e sua classificação na Filosofia da Ciência. Ele percebeu a fragmentação de um conceito em categorias diferentes de abstração. Bachelard esclarece que isso não está claro ao individuo que ‘conceitualiza’. Desta forma envolve as concepções de um conceito numa classificação que distribui em escolas filosóficas desde a estrutura animista até a ultrarracionalista (sendo que o racionalismo é tratado com vigilância do a priori como a posteriori). Construindo um “Perfil Epistemológico” sobre um determinado conceito no seu fundamento filosófico para o individuo, podendo haver elementos da compreensão dessa concepção em predominância em uma determinada categoria (escola filosófica). Compreendem-se as categorias filosóficas como: a) o animista é a convicção ligada a forças na natureza espiritual; b) realista ingênuo é a compreensão somente do sensível; c) o empirista relaciona-se ao conhecimento material palpável apreendido pelos sentidos e por instrumentos; e d) racionalistas são informações estruturadas em termos abstratos de critérios e relações, sendo de simples racionalismo clássico até o racionalismo dialético (discursivo).
O segundo tipo de perfil, o modelo de Viau et al. (2008), compreendem que o perfil epistemológico pode passar por um processo de “Transferência Epistemológica de um Modelo Didático Analógico”. Toma-se como referencia que uma determinada teoria pode ser modelada, e nesta “modelização” os conceitos são intrínsecos, podem ser distinguidos por analogia. A cada conceito pode ser atribuído uma estrutura didática (dramatização, imagem, metáfora, analogia, etc.). Isto é, realizando uma relação com o modelo de Bachelard do Perfil Epistemológico no qual um conceito específico pode conter elementos animistas, realistas, empiristas e racionalistas, podem ser efetivados a transferência epistemológica dos seus pressupostos analogamente em um modelo didático da teoria para formação científica.
O terceiro tipo de perfil, o modelo de Mortimer (2000) chama de Perfil Conceitual “a ideia de que um único conceito pode ter diferentes zonas que corresponde a diferentes maneiras de ver, representar e significar o mundo, e são usadas pelas pessoas em contextos diferenciados” (COUTINHO et al., 2007, p. 115). Isto pode refletir a não possibilidade da Mudança Conceitual completa, pois Mortimer acredita que não existe desligamento total de conceitos antigos aprendidos e depois substituídos com conceitos que melhor representam a realidade, somente existe o uso contextualizado daquele conceito. Este modelo foi idealizado para atividade de Ensino de Ciências.
Assim, exemplificando, uma prática pedagógica que no processo de ensino diretivo de uma teoria científica pode refletir um ‘Perfil Epistemológico Analógico’ para formação científica tal qual ele seja. Ou um ‘Perfil Conceitual’ que se delimite em analisar o conceito, no qual não haja Mudança Conceitual completa, mas apropriação de sentido e significado para dado contexto. Mesmo pressupondo que o conhecimento científico seja universal, o emprego desse conhecimento deve ser resignificado. Desta forma é necessário refletir sobre o conhecimento cientifico para o contexto escolar, e os perfis possíveis de pensamentos para o ensino.
 
 
REFERÊNCIAS

 
BACHELARD, G. A filosofia do não. São Paulo-SP: Abril S.A. Cultura e Indústria, 1979.
COUTINHO, F. Â.; MORTIMER, E. F.; EL-HANI, C. N. Construção de um perfil para o conceito biológico de vida. Revista Investigações em Ensino de Ciências, v.12, n.1, 2007.
MORTIMER, E. F. Linguagem e formação de conceitos no ensino de ciências. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000.

VIAU, J. E. et al. La transferencia epistemological de un modelo didático analógico. Revista Eureka sobre Enseñanza y Divulgación de lãs Ciencias. v.5, n.2., 2008. Disponível em: <www.apac-eureka.org/revista>. Acessado em: 10.jun.2009.