EDUCAÇÃO CRISTÃ E ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL: REFLEXÕES SOBRE DESAFIOS DO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO

EDUCAÇÃO CRISTÃ E ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL: REFLEXÕES SOBRE DESAFIOS DO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO

EDUCAÇÃO CRISTÃ E ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL: REFLEXÕES SOBRE DESAFIOS DO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO

Versão em PDF com referências e notas de rodapé

Saulo Cezar Seiffert Santos

Abdias Martins Paiva

 

Resumo: A educação cristã não pode ser resumida a Escola Dominical (ED), contudo perder-se-ia muito se a mesma não for devidamente adaptada à realidade presente. Assim, à ED que teve seu inicio com trabalho social voltado as crianças, e no Brasil, o quadro se tornou distinto, o pentecostalismo na Assembléia de Deus direcionou sua ênfase aos adultos. Desta forma, busca-se discutir que mesmo com pouca idade deste movimento pentecostal, a ED necessita de bases epistemológicas e fundamento teológico consistente para enfrentar as demandas de uma sociedade pós-moderna. Neste ensaio, procurou-se fazer uma tessitura entre uma síntese da ED com as bases antropológicas na missão educativa para distinguir das vozes seculares, e do projeto iluminista, e posteriormente propor uma visão cristã de realidade a partir de Dooyeweerd para evitar o reducionismo secular na teoria dos aspectos modais da realidade, e por fim analisar os tipos de educação cristã no prisma formal, não formal e informal.

Palavras-chave: Escola Dominical; Educação Não Formal; Assembleia de Deus.

 

INTRODUÇÃO

A educação cristã é um campo de ação muito importante para a formação humana cristã, busca preparar o homem para dialogar com a sociedade as realidades contemporâneas segundo as revelações bíblicas, oferece suas contribuições à humanidade, desenvolvidas pela cultura, a idéia de amor cristão e a tolerância. Todavia, não se pode resumir a educação cristã à Escola Dominical, exemplo. Mas sem a mesma perderia uma influência importante no mundo ocidental. Num contexto pós-moderno é importante o posicionamento coerente e consistente para influenciar com riqueza e novidade, pois, é prático se entender que vivemos em uma época de impressões aceleradas/hipermodernas.

A Escola Bíblica Dominical, muitas vezes denominada de Escola Dominical, ou ED, é uma presença na educação cristã mundial, e também no Brasil. Contudo, o seu papel e o seu estudo organizado no campo de produção científica carecem de avanços significativos e estratégicos. Em parte, essa carência, pode-se falar sobre a necessidade de sustentação epistemológica de seu projeto e papel ligado as denominações religiosas enquanto posicionamento estratégico de influência cultural e contribuidora de produção de pensamento cristão/crítico.

Durante a história do pensamento doutrinário cristão, a questão do ensino foi sempre valorizada, como o ensino narrativo presente nas Escrituras Sagradas, a Bíblia Sagrada, por meio da estratégia epistolar. Quanto ao campo pedagógico cristão, bom refletir sobre os caminhos tomados a partir da reforma religiosa, e assim, enunciar o trabalho de Comenius com a Didactica Magna no século XVII, e depois no final do século XVIII com Raikes com a criação da Escola Dominical no Reino Unido e no Brasil inicia-se os trabalhos com Claudio Marra na década de 1830 pelo ministério metodista episcopal apoiado pela missão escocesa na década 1850 com o casal Kalley no Rio de Janeiro.

Pode-se destacar para Lemos6 que o movimento mundial de evangelização por meio da ED realizado por Wesley, e seu florescimento e influencia em várias denominações evangélicas.

Contudo, inicialmente, a educação cristã organizada na igreja católica possui um caráter formal, exemplo, nos seminários em que, em parte, ainda é perceptível o trabalho de Comenius, no qual com a reforma protestante ocorreu uma flexibilidade e descentralização deste modelo.

O resultado dessa descentralização foi à diversificação de modelos educativos. Isso de certa forma colaborou para o melhor apoio das famílias e comunidades ao decorrer da história ocidental depois da reforma, se adequando a cada contexto para a transmissão cultural.

Para Ramos7 a ED nasceu não da preocupação somente do ensinamento religioso bíblico, mas da educação para formação da criança visando o futuro, ao produzir nela competências e a capacidade de viver com dignidade e responder aos desafios do presente. A ED desejava contribuir com o enfrentamento entre as desigualdades sociais nas famílias no contexto econômico e cultural, em especial depois da reconfiguração social da revolução industrial e científica.

A história da ED brasileira possui o modelo presente nas igrejas de tradição histórica, e o surgimento do pentecostalismo clássico, como é o caso da Assembléia de Deus no Brasil, no início da década de 1910. Percebe-se que esta denominação cresceu rapidamente com a bandeira da pregação pentecostal e a leitura bíblica, e assim atraiu o proselitismo de igrejas de tradições históricas e católicas. De tal modo, na década de 1930, para Lemos, inicia o trabalho de publicação de folhetos de ensinamento doutrinário, como o Mensageiro da Paz.

Devido a esse contexto na Assembleia de Deus, a partir da década de 40 ocorreu pela Casa Publicadora das Assembléias de Deus, as publicações cada vez mais sistematizadas e conservadoras. Contudo, os materiais de leituras predominantemente eram escritos para o público adulto. Há também registro nesta época de materiais bíblicos produzidos para crianças. Para tanto, notou-se uma ED distinta das motivações iniciais em que buscavam as crianças, e pôr fim a família. Essa estratégia de fixação dos adultos continuou até a criação do departamento infantil na década de 70. Logo, o contexto da ED nas Assembléia de Deus nasce do movimento de leituras bíblicas, pregação e publicações teológicas pentecostais voltadas para os adultos, observando a idéia da formação teológica de tendência separatista do mundo e da cultura secular para vivificação da santidade.

Fora isso, a organização e estrutura educativa cristã brasileira precisam de reflexões teológicas continuas em forma de atualizar-se ao mundo contemporâneo. Simultaneamente ocorrem cursos nos seminários de formação de sacerdotes, escolas de confissão religiosa para o ensino básico e superior voltados para público de confissão religiosa ou não. Onde se fundamentam isso? Em qual visão podemos está inserido de formação humana cristã? Quais sãos as formas de “capilarizar” o processo educacional e de diálogo para situações contemporâneas? Buscamos fazer um ensaio como proposta inicial de problematização no meio pentecostal assembleiano.

Versa-se neste ensaio sobre tópicos de antropologia para educação cristã, cosmovisão, realidade, tipos de educação e desafios da ED no movimento pentecostal assembleiano.

COSMOVISÃO & EDUCAÇÃO

Pode-se adotar uma visão de mundo secular (quer dizer deste século). Ou seja, ignorar a tradição cristã, e os princípios bíblicos, epistemológicos e culturais já estabelecidos historicamente. Na verdade, é o usual esse comportamento de renúncia da mentalidade cristã pela secular.

Aqui adotamos uma visão reformada de realidade partindo da soberania de Deus e uma discussão filosófica que se aproxima da fenomenologia, e não se assenta num reducionismo do subjetivismo moderno e no materialismo científico.

Contudo, reconhece-se que no movimento pentecostal ocorreu uma visão de separação da realidade espiritual e secular. Assim, fazendo do homem “um ser” divido em duas formas de pensar11. Procura-se não ser simplista, e perceber a complexidade e a forma de ser encarada nas suas especificidades, e não buscar um abuso do escapismo escatológico, mas dialogar com a realidade e preparar não só a alma, mas o homem todo, como diz o Pacto de Lausanne: o Evangelho todo, para todo homem, para o homem todo.

Portanto(G. de Carvalho, 2017), todo processo educativo possui uma antropologia filosófica implícita. Isto quer dizer que há um projeto de homem e de sociedade, mesmo que não tenhamos em mente quais são estas implicações e se de fato se opera nesta direção.

Este projeto de homem e sociedade possui normalmente algumas questões que compõem uma teoria social: origem/fontes das regras sociais, nexo social (participantes desta sociedade) e finalidade social. Não se tem a pretensão de levantar uma discussão especializada, e nem tão pouco exaustiva, mas se apresenta as seguintes tensões:

No caso da origem das regras sociais está associada a levar ao homem a ser autônomo (tomar suas decisões com base na sua lei ou pensamento independente), conhecido no humanismo e no cientificismo que acredita que a razão e o homem são capazes por si mesmo aperfeiçoarem e pensar só e por si. No outro extremo há a heteronomia (tomar decisões com base numa lei diferente de mim, em que vem de fora, como na ideia de comunidade), comum nos projetos de utopia e engenharia social, em que é a nação ou partido, transferindo esperanças escatológicas religiosas para a política. A pergunta que se pode fazer é que educamos para autônomos ou heterônomos? Na perspectiva cristã bíblica nossa moral, verdade e identidade são transcendentes. Vem de fora, mas não de uma utopia política, vem da revelação da palavra de Deus, vem da palavra de Jesus Cristo. Logo é heteronômica cristocentrica.

Na segunda questão fala no nexo social, ou os participantes da sociedade, em que tem função social e motivo de interação com os outros. Em um extremo há a ideia, o entendido como ação livre e desimpedida pessoal no qual é somente restringida pelo Estado para evitar a violência do choque de interesses ocasionada pela liberdade de buscar o prazer (seja como for o que se entenda por prazer)18. Do outro lado há o projeto de homem de ideologias como normalmente coletivistas (como o marxismo clássico) em que o homem é diluído numa racionalidade/abstração ou visão, ou simplesmente numa imagem que busca3.  A pergunta nesta área é que nexo ou função há no homem? Para sua liberdade progressiva para o prazer ou para um projeto de imagem de homem? Uma resposta cristã é que o homem foi feito a imagem de Deus, e sua dignidade, humanidade, plenitude e liberdade são encontrados na responsabilidade da relação com o seu criador, e historicamente construída e materialmente dialogada com o mundo aí, no qual os problemas não se buscam modelos abstratos, sem significado ou propósito.

Por fim, a última ideia é a finalidade social. Para que este homem vive? No qual transita numa ideia de vontade de poder Nietzsche (vontade de potência) de fazer de acordo com o proposito próprio de se realizar em fazer sua vida na caminhada da vida pela própria forma de decidir, e superar o próprio homem (super-homem). E do lado oposto, a utopia e alguns a esperança escatológica, ou seja, um projeto espiritual desejado pelo demiurgo, ou pela ideologia comunitária ou do Estado18. Neste momento se questiona qual é a finalidade deste estudante, deste humano que formamos? Para si, ou para uma ideia de finalidade de projeto? Neste caso, ao cristão se identifica com a ideia da Cidade de Deus encontrada em Agostinho, por sua vez encontrada em Apocalipse como Nova Jerusalém, sendo capacidades humanas centradas em Deus, em relação à cidade dos homens, no qual pela sua capacidade busca alcançar o céu com o preço da negação do divino. O mandato cultural não constrói só o futuro, mas constrói o agora e o devir na presença de Deus.

Podemos ter muitas combinações de antropologias filosóficas, contudo há uma que nos apresenta uma visão funcionalista de homem determinada de fora para ele mesmo, e outra forma que ele escolhe. Mas não tem sentido em si, e este passa para cada um a angustia da liberdade.

Desta forma, constitui uma cosmovisão que busca do equilíbrio entre os pressupostos, compromissos e valores que desenvolvam uma vida decente e com sentido para não negligenciar nossa humanidade.

Essas questões refletem nas discussões de pós-modernidade e hipermodernidade que as pessoas tendem a serem ansiosas, angustiadas, apressadas, imediatistas, pragmáticas e por muitas vezes desconfiadas sobre verdades e reflexões que se apresentam na escola, como se não houvesse sentido de vida em aprender ou ser formado.

Não se pretende dizer qual é o caminho, ou se há um único caminho, pois isso depende de muitos fatores. Mas a ciência disso nos conduz nas decisões pedagógicas de fazer um homem a   imagem que pensamos ser o melhor, ou numa postura de fazer-se responsável pelas suas ações.

Logo, qual é a cosmovisão empregada na educação cristã? Uma cosmovisão que faz separação entre secular e o que é santo, em que entrega aos “secularistas” a reflexão intelectual educacional? Pensa-se “secularmente” no ensino cristão? Isto é coerente com a tradição de pensamento cristã? Não.

O que tem haver isso com a ED nesse contexto? A ED enquanto estratégia institucional nas congregações ou paróquias, não são triviais e locais de mera reprodução cultural. Mas é o local de reflexão dos pressupostos contemporâneos sobre a vida, a sociedade e a cultura com maior capilaridade de estruturar e construir formas de pensar com criticidade. A denominação pentecostal que desvaloriza a ED pode está fadada a ser esvaziada no sentido do longo prazo e ficar presa ao presenteísmo e não promover a experiência interior religiosa nas áreas de existência humana mais profunda.

As respostas na perspectiva cristã de projeto de homem, sociedade e instituição são profundas sobre qual a educação queremos. Ou seja, na moral, a verdade e a identidade sendo transcendente, formando o humano heterônomo em Deus. Para ir além, para o homem refletir a imagem de Deus, e sua dignidade, humanidade, plenitude e liberdade, e assim alcançar significado ou propósito. Desta forma, ao cristão se identifica com a ideia da Cidade de Deus ou Nova Jerusalém, relacionando suas capacidades humanas centradas em Deus no mandato cultural e da grande comissão.

Pela história pentecostal é possível compreender algumas dificuldades das denominações devido à idade de sua fundação, contudo, ao decorrer do tempo sofrem enfretamentos e problemas que outras denominações históricas já enfrentaram. E neste caso, o diálogo é importante para não perder sua herança e tradição, e também aprender a viver com a presença da pluralidade na realidade.

QUE REALIDADE?

Quais os pressupostos epistemológicos/filosóficos para dialogar com a realidade numa perspectiva cristã? Ou empregamos pressupostos epistemológicos seculares de forma acrítica? Uma forma de ver é por meio da teoria dos aspectos da realidade de Dooyerweed13.  Assim, podemos caminhar para aquilo que chamamos de realidade. Em função dos nossos compromissos possuímos uma visão de realidade cristã em que não se reduz no materialismo, relativismo e humanismo.

Normalmente a visão de ciências que podemos ter (possivelmente) é o cientificista. Em que o mundo e sua racionalidade conduzem ao materialismo (às vezes empiristas), que a natureza é submetida aos processos e técnicas da investigação e dominação científica por meio da técnica (ou tecnologia) no qual temos mais poder, mais conhecimento e mais progresso. Pois o progresso é entendido como acumulo de coisas, ou ter mais, em que os problemas serão resolvidos pela ciência, se ainda algum não foi, o será pelo desenvolvimento científico tudo será explicado e dominado(Chalmers, 1993; Chassot, 2006).

Por outro lado, podemos ver a realidade como um todo, e não por partes que são somadas(Chauí, 1995). Mas podemos perceber que determinados aspectos da realidade podem ser apreendidos, e por fim pensados(Silva, 2011). E estes não são reduzíveis aos outros, como a vida biológica não se reduzem ao físico-química, ou a vida cultural ser reduzida a lógica mecanicista.

De tal modo, o conhecimento vem pela percepção como um todo da nossa consciência, mas há elementos tácitos (subsidiários) em que não são nomináveis, ou perceptível, mas estão ativos no perceber, e outros elementos da consciência que estão explícitos (foco) em que fazemos sua inteligibilidade(Saiani, n.d.). Logo, o conhecimento é pessoal, pois uma consciência que direciona e constrói seu entendimento pelos elementos tácitos e explícitos(Beira, 2009). Podemos comparar com um iceberg, o visível é o conhecimento explícito, uma pequena parte, mas submerso está maior parte, em que se compara com o conhecimento tácito que subsidia o conhecimento pessoal(L. Teixeira, 2011).

Para entender esse entendimento de conceber a realidade podemos usar de analogia a luz branca num prisma em que separa vários espectros luminosos não percebidos anteriormente, mas depois é possível observa-los. No caso a luz branca é a realidade sendo percebida em uma totalidade, mas o prisma (a consciência) apreender a mesma, e somente depois revelam-se na consciência os vários aspectos da realidade, ou o seu modo de ser em várias formas diferentes (Figura 1).

Fíg. 01: Analogia da apreensão da realidade como pela luz em um prisma.

Assim, esta realidade possui aspectos pré-teóricos na sua consciência (compromissos e pressupostos) e formam a capacidade de perceber os aspectos diferentes em seus modos de ser (ou modalidades)(Dooyeweerd, 2015). A ideia de consciência tem a ver com o conceito de ser-no-mundo de Heidegger em que não esgota o ser no ente, mas em cada novo movimento de consciência é possível perceber o ser em nova forma (Saiani, n.d.).

Uma forma de perceber os aspectos da realidade pode ter um ponto de início em quaisquer pressupostos ou hipóteses, pois daí os movimentos de consciência na apreensão da realidade pode pensar e construir seu entendimento teórico. No caso, adotamos pelo sentido ligado a diferença entre as esferas de modalidade (ou de modo de se apresentar) do mais simples ao mais complexo, em que cada aspecto modal possui referência a modalidade anterior, mas não pode ser reduzível aos aspectos de nível inferior e nem superior. Veja na tabela 1 abaixo de modalidade.

Tabela 01: Esferas modais, sentidos bases e área do conhecimento relacionado. (DOOYEWEERD, 2015)(Dooyeweerd, 2015).

 

Esferas modais

Sentidos

Ciências

15

Segurança

Certeza-Crença

Fiduciário-fé

14

Ética

Alteridade/amor

Ética

13

Jurídico

Retribuição

Direito/Política

12

Econômico

Parcimônia

Economia

11

Social

Relações sociais

Sociologia

10

Semiótica

Significação

Semiótica

9

Estética

Harmonia

Artes

8

Cultural (Histórico)

Poder/controle formativo

História

7

Lógica

Distinção racional – analise

Lógica

6

Psíquica

Sensações/Emoções

Psicologia

5

Biótico

Vida/vitalidade

Biologia

4

Física

Matéria/Energia

Física/Química

3

Cinemática

Movimento

Cinética

2

Espacial

Extensão

Geometria

1

Numérica

Quantidade

Matemática

 

Esse esforço se deve a não cair no cientificismo e outros ismos que reduzem a realidade e não valorizam e dão a devida autonomia de pensamento em cada aspecto para pensar a realidade14(G. V. R. de Carvalho, 2010). Vejamos um exemplo de analisar um objeto de forma ampla na Figura 02.

Fig. 02: Análise do pé de feijão.

O pé de feijão pode ser visto em vários aspectos. Individualmente alcança até o nível biótico, mas se for relacionar ao homem em processo de capsulamento podem ser percebido todas as modalidades. No caso, separamos somente nove aspectos. Um feijão é visto no aspecto numérico, espacial, cinemático, físico, biótico, lógico, semiótico, cultural e ético em que pode ser analisado em ser um pé, possui um tamanho e porte, possui uma velocidade de crescimento, um desenvolvimento biológico de reproduzir, produzir espigas por plantio, possuir um sentido de alimento, associado com história como o João e o pé de feijão e por fim pode-se compartilhar o feijão com o próximo. Não se esgota um pé de feijão em sua análise.

Num segundo exemplo podemos observa a água na natureza na figura 03.

Fig. 03: Análise da água na natureza.

A água em si pode ir até o nível físico de aspecto modal, mas a água na natureza em relação aos efeitos do homem é um capsulamento. Em outros aspectos modais, podemos perceber um rio com muitas garrafas, espaço natural grande ocupado uma superfície de garrafas, reduz a luminosidade na água, ocupa lugar da biodiversidade, evidenciando a poluição na natureza pelo consumismo e incomodando para necessidade de preservação. Esta percepção é ainda mais abrangente suas possibilidades de reflexão.

Desta forma, mostra-se que para educar para pensar cristãmente/criticamente e refletir no ser das coisas é complexo, e não é só da escola formal. Mais com vários braços com apoio da sociedade com a educação formal, educação não formal, educação informal e aprendizagem ao longo de toda vida(Bendrath, 2014). Se enganam quem pensa que só se forma quem vai à escola e tem um diploma, a formação é continua e com compromissos. Caso contrário, a mente é secular, e os compromissos fiduciários não ocuparam espaços e formas de expressões efetivas.

Para uma educação cristã precisa-se estudar a realidade nos seus aspectos modais, e não correr o erro de reduzir a realidade de um único aspecto todos os outros. Por exemplo, reduzir os aspectos da vida biológica ao fisicalismo (comum essa ocorrência nas ciências naturais), ou reduzir os aspectos fiduciário aos históricos (frequente nas ciências sociais). Na comunidade da fé também pode reduzir toda a realidade a leitura fiduciária de mundo (como interpretações literais bíblicas em qualquer passagem). Todavia, busca-se refletir e ter uma consciência cristã/crítica para dialogar com o mundo nos seus diversos aspectos modais. Por exemplo, qual a resposta e a reflexão cristã no campo da arte, do direito e da economia? Muitos podem dizer que são áreas dominadas por cosmovisão secular, e precisam-se desenvolver uma cosmovisão cristã e desenvolve-las cristãmente.

Logo, nos estudos formais as investigações precisam e necessitam respeitar as fronteiras de cada modalidade, e assim nos estudos não formais e informais recebem a contribuição dos estudos formais para a reflexão e compreensão da realidade devido a sua capilaridade educativa.

EDUCAÇÃO FORMAL, NÃO FORMAL E INFORMAL

O desafio do ensino bíblico no contexto contemporâneo possui muitas formas de capilaridades para alcançar vários públicos. Mesmo que a sociedade (pós) moderna possua especialização do saber, instituições de filtro e competências que de certa forma legitimam o saber e também impedem a influência de outros. Há mais espaços para se refletir e pensar sobre os preceitos bíblicos e religiosos. Alguns intelectuais, como Deleuze, acreditavam que neste período contemporâneo a religião sobressairia devido às incertezas e o fracasso do projeto iluminista de homem autônomo, crítico e racional.

E como resposta a essa necessidade encontram-se a ED nas igrejas, em horários diversificados, e também em locais diferentes. Mas normalmente são iniciativas de pessoas das denominações que dirigem esse trabalho educativo. No qual não é necessariamente certificado, tão pouco ocorre rigidez que exclui as pessoas. Essas atividades podem ser chamadas de educação não formais. Contribuições e distinções entre os tipos de educação (tabela 2).              

Tabela 02: Diferença entre formal, não formal e informal (ESHACH, 2007)(Eshach, 2007).

Formal

Não formal

Informal

Geralmente na escola

Em instituição fora da escola

Em qualquer lugar

Pode ser dominante

Normalmente aceito

Aceito

Estruturado

Estruturado

Não estruturado

Normalmente disposto

Normalmente disposto

Espontâneo

Motivação é tipicamente mais extrínseca

Motivação é tipicamente externa, mas é tipicamente mais intrínseca

Motivação é intrínseca, normalmente

Compulsório

Normalmente voluntário

Voluntário

Orientado pelo professor

Pode ser orientado pelo guia ou professor

Normalmente, se auto conduz

Aprendizado é avaliado

Normalmente não o aprendizado não é avaliado

Aprendizado não é avaliado

Sequencial

Tipicamente não sequencial

Não sequencial

 

Assim, a Educação Formal é na escola, formal, estruturado, certificadora, possui carga horária e regras definida em currículo, conteúdos sequenciados, obrigatória, com professor e o aluno é avaliado. Um exemplo são os seminários teológicos. Mas também qualquer escola de ensino básico ou superior, sendo confessional, ou não.

Em que diferencia da Educação Não Formal que pode ser fora da escola, voluntaria, dada por guia ou não e sem necessidade de sequencialidade pela escola, ocorrem em Igrejas e pequenos grupos. É possível considerar aqui a presença das Escolas Dominicais.

A educação informal não é estruturada, ocorre naturalmente nos ambientes em que convivem, por isso não se compara rendimentos, pois não possui objetivos estruturados. Sempre ocorre uma ênfase no formal, mas hoje se busca a ampliação naquilo que a escola é limitada. A vida cotidiana na comunidade eclesiástica traz muitas aprendizagens que não são sistematizadas, e possuem muito valor e na livre adesão.

É importante destacar a tabela de Eshach, pois a educação não é só escolar. Há uma onda de valorização da educação informal, enquanto movimento de formação familiar, comunitária e de associação, e como atividades virtual com a expansão da internet e dos aparelhos eletrônicos. Essa realidade junto à educação não formal tem ressignificado o professor na educação escolar o seu papel formador, de conduzir a pesquisa, a investigação, ao desenvolvimento do pensar criticamente e do saber-fazer. Abandonando como diz Chassot a o ideal de professor informador, que presta informação e a repetição dos conteúdos(Chassot, 2006).

Nos EUA por exemplo a consulta de informações consultados na internet aumentou de 10% para 87% em dez anos, mas outras formas mais tradicionais reduziram, como família e amigos para adultos(Stocklmayer, Rennie, & Gilbert, 2010a). Veja na tabela 03.

Tabela 03: Fonte de informações científicas para adultos (grifo nosso)(Stocklmayer, Rennie, & Gilbert, 2010b).

Fonte de informação

Ano 2000 (%)

Ano 2009 (%)

Internet

10

87

Televisão

74

67

Livros e revistas (não-escolar relacionada)

76

63

Família e amigos

55

45

Museus de ciência, jardins zoológicos, aquários

65

41

'No trabalho'

57

37

Os cursos da escola

68

34

Fitas de rádio e educacionais

31

25

Club de Hobby ou grupo

Sem resposta

12

                                      Fonte: Stocklmayer, Rennie e Gilbert (2010).

Essa tendência mostra que a internet é uma excelente forma de alcanças diversos públicos, com também atividades da ED, podendo ser chamada de espaços (ou ciberespaço) não formal

educativo que potencialmente pode contribuir para a formação religiosa e moral.

As atividades de ED virtuais ainda são pouco pesquisadas. Mas percebe uma gradativa expansão em diversificação de programações com uso de canais diversificado, como o YouTube. Assim pode-se identificar esse fenômeno como de educação informal, pois vai do interesse dos usuários acessarem os conteúdos e continuar acompanhando as lições semanais aos domingos.

CONCLUSÃO

A ED possui uma história que inicia com o trabalho social com crianças no contexto europeu de teologia reformada em que no contexto pentecostal brasileiro, como na Assembleia de Deus, foi deslocado para formação de adultos na década de 40 do século passado. Esse perfil foi parcialmente equilibrado com a inclusão da formação infantil a partir da década de 70. Contudo, no contexto atual se passa com muitos desafios na consolidação institucional frente aos problemas contemporâneos pós-modernos e hipermodernos.

A ideia de educação cristã não pode ser resumida em ED, mas como cosmovisão e um projeto de homem e sociedade fundamentado epistemologicamente e filosoficamente com aparato bíblico e na revelação, caso contrário será sequestrado pelo pensamento secular, em que provou com muitos fracassos não conseguir substituir a religião com o projeto iluminista e moderno.

Uma sugestão de pensar educação cristã é um cerne heteronômico cristocentrico de projeto de homem, sociedade e instituição. Ou seja, na moral, a verdade e a identidade sendo transcendente em Deus. Para ir além, para o homem refletir a imagem de Deus, e sua dignidade, humanidade, plenitude e liberdade, e assim alcançar significado ou propósito. Consoante ao fato que ao cristão se identifica com a ideia da Cidade de Deus ou Nova Jerusalém, relacionando suas capacidades humanas centradas em Deus no mandato cultural e da grande comissão.

A realidade não é materialista e nem utópica em ideologias comunitárias, mas centrada na percepção da realidade nas modalidades criadas por Deus em ver um objeto em vários aspectos que não são reduzíveis. Mas precisam ser estudados e analisados no seu sentido e na sua lei/sentido.

Entende-se que a educação cristã é formal, não formal e informal. Sendo que a capilaridade das informações tem alcançado o ensino não formal, como a Escola Dominical, e na informal, como atividades ligadas à internet com o livre acesso e voluntariedade de usuários/seguidores.

O projeto de educação cristã precisa ser discutido não pulverizadamente, mas de forma sistemática e progressiva buscando produzir satisfação aos que se interessam pelo conhecimento de Deus.